
Nos propusermos a um exercício aparentemente já sabido, mas verdadeiramente esquecido ou engolido por fantasmas. havia uma dimensão dilatadora nesse exercício em todo seu movimento de corrida e respiração na tentativa de abrir fissuras em determinados códigos. ouviam-se sussurros entre várias vozes/ventos que nos contavam incansavelmente - alguns só vêem pedra, mas não é só pedra não -. alguns enxergam uma escrita em gesto no mundo que percorre a pedra da boca, a pedra do sol, a pedra do segredo, a pedra da lua, a pedra porta do vento, pedras de tantas outras. encontrar a terra na pedra. os mais atentos chamam isso de escrita dos ventos e das águas, ainda recebem contornos de cada bico de pena que come e dorme lá ou de cada musgo que surge ao passar dos tempos. saboreiam o papel como uma manga doce, mas não é manga não. há encontros que precisam ser comidos, devorados para emergirem existências subterrâneas. elas brotam ao reconhecer o próprio suor de cada corpo ou entre o cheiro que surge do mesmo lastro que se faz mel. as pedras choram, tremem e o que é chamado de poesia se torna oco. é simplesmente pouco. pouco ainda para continuarmos o exercício. praticar grafias no mundo, caos-mundo, dobrável e sempre fundo.
O Práticas Desviantes é uma plataforma que teve seu início em 2018 no Museu Murillo La Greca, sua proposta era o diálogo entre museus e vizinhanças, refletindo junto a artistas e visitantes os marcadores sociais que atravessam o Recife e que comumente são díspares raciais e econômicos.
Hoje, o projeto se expande em uma articulação que envolve a saída do espaço institucionalizado como estratégia para discussão de práticas antirracistas a partir do lugar onde se habita.
A provocação de artistas negros e indígenas são motes para formações que fortalecem as criações de pensamentos críticos sobre os espaços, as relações de poder presentes nas modificações das paisagens e as transformações do tempo frente às dilatações ecológicas e/ou fundiárias. O projeto envolve a reflexão de práticas e pensamentos disruptivos aos rastros coloniais na maneira de existir, produzir e se relacionar nestes distintos ambientes.
Logo, criou-se o desejo de aprofundar pontos que também perpassam por uma relação biopolítica dos corpos; e como a criação de visualidades e a permanência destas, como força de continuidade é intrínseca à formação de imaginários éticos.
Ariana Nuala

Abiniel João Nascimento é artista visual, pesquisador e bacharelando em Museologia pela UFPE. É membro do coletivo CARNI (@carnicoletivo) e pesquisador/curador no CAIN (@cain.ufpe). Tem como campo de pesquisa-vida os encontros entre corporeidade, espiritualidade e expressividade, entendendo-os como territórios confluentes. Em 2019 foi artista selecionado no Prêmio Eduardo Souza de Artes Visuais e co-curador da mostra "A memória da deriva" (João Pessoa - PB); em 2018 e 2020 participou dos X e XII UNICO (SESC PE) e atualmente está residente no programa de Residências Artísticas da FUNDAJ (Recife - PE).

Ariana Nuala (Recife | PE - 1993) é educadora, pesquisadora e curadora. Formada em Licenciatura em Artes Visuais pela Universidade Federal de Pernambuco (2017), atuou na Coordenação do Educativo no Museu Murillo La Greca (2018 - 2020) e atualmente é assistente de curadoria do Instituto Oficina Francisco Brennand. Coordena como projeto independente a Plataforma e Residência Práticas Desviantes, e também é integrante e curadora dos coletivos CARNI (@carnicoletivo) e do Trovoa (@trovoa__). Combina estratégias que começam no corpo e se condensam em escrita e imagem. O exercício na curadoria é confluência artística e educativa, uma necessidade que tange seu caminhar. Em 2019 participou como residente do Valongo Festival e foi curadora da mostra Estratégias para o Contorno no XI ÚNICO pelo SESC PE.

Ana Cláudia Almeida é formada pela ESDI, Escola de Desenho Industrial da UERJ, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Hoje é artista visual que faz design, mas não muito. Como designer tem experiência diversa, já tendo trabalhado em ONG, multinacioal, startup e outros, majoritariamente em equipes de comunicação visual e/ou branding.

Silvia Tereza Moura (Pe-1992) é Arte/educadora e produtora cultural, foramda em Licencitura em Artes Visuais pela Universidade Federal de Pernambuco atua desde 2014 com produção de projetos culturais. Participou da criação da primeira galeria de arte da cidade de Camaragibe, a Galeria Vila. Atuou como Monitora na Fundação Joaquim Nabuco e Coordena o projeto Camaragibe nos Museus. Atualmente atua com gestão de projetos culturais no estado de Pernambuco.