Loren Minzú (1999), nascide no território São Gonçalo, é graduande em Artes pela Universidade Federal Fluminense e atua no campo das artes visuais, performance e cinema. Ficciona através da desarticulação, rearticulação e relação entre elementos para pensar as categorias que atravessam tempo-corpo-espaço e suas instrumentalizações políticas.
Retorno ao território onde nasci, Pita/SG. Território indígena Tamoio colonizado por Gonçalo Golzalves. Escavo durante uma hora, com marreta e ponteiro, camada de asfalto à procura das pedras paralelepípedas que compunham a rua de minha memória. Através da materialidade se escreve o tempo, sobreposto em terra pedra-pixe. Preciso abandonar a ideia de escrita horizontal, para entender o processo arqueológico, e abandonar a ideia de arqueologia para pensar que o passado se sobrepõe ao presente, e para imaginar que a terra úmida que vaza por entre as frestas das pedras está sendo pisada agora por corpos que nunca verei. Com meus dedos posso sentir que a água ainda circula seus fluxos e anuncia seu ritmo, debaixo da matéria rígida feita do petróleo. Petróleo que vem da mesma sobreposição de tempo, corpo e espaço. É extraído da terra como tempo, corpo e espaço.
Negocio desejo de transcender a temporalidade de minha corpa com a pedra, que resiste em ser removida. Está arraigada, insiste em ocupar o espaço de uma possível armadilha, de uma cratera que nos confunda as noções e nos permita habitar um tempo que só se esquece com a repetição do medo. Entrego então a possibilidade de disrupção ao sistema daquele território através do espelho, que refletindo o céu sobre a escavação, inverte o esquema de sobreposições como um anúncio de outras espacialidades: onde se possa criar narrativas que não se movam apenas às noções de passado, presente e futuro a partir da diferenciação mas também no lugar onde coexistem como força e intensidade.
