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Edson Barrus para plataforma práticas desviantes
Ilustração para plataforma Práticas Desviantes
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Edson Barrus

Edson Barrus, nasceu em Carnaubeira da Penha, PE. Indígena urbano do Povo Atikum-Umã, Doutor em Psicologia Clinica-PUC-SP com pós-doutorado em Ensino da Arte -UFPB. Artista multimídia, interessado em criar situações de fomento ao pensamento da arte. Autor do projeto Cão Mulato, Ativador do Espaço Experimental Rés do Chão no Rio de Janeiro, do Espaço Bcubico (com yann beauvais) no Recife e das Quarentenas de Arte Açúcar Invertido; atua como arTTrainee agenciando processos de produção criativa. Publicou nas revistas Arte & Ensaios, Concinitas, Arteriais, Item, Lugar Comum, Eco-Pós e Gruppen. Desde 2016, dedica-se a salvaguardar uma árvore de imburana-de-cambão e cria estratégias de visibilidade para alcançar esse objetivo. Dentre outras, as plantAções em museus e a exposição imburaninha na galeria Ygrec/Paris em 2021. Livros publicados: yb150213 (Org.) ISBN: 978-85-92970-00-0 e arTTrainee ISBN: 978-85-92970-02-4 . Videos em distribuição por Ligth Cone https://lightcone.org/fr .

Árvore nativa da caatinga, a Imburaninha é de grande beleza e valor social, além matéria para artesanato, é também, fonte de remédios. Estes aspectos da imburana de cambão produz no sertanejo uma relação carinhosa e afetiva por ela. Considerada a mãe dos artesãos, é materia prima para a xilogravura, usada para ilustração da literatura de cordel, na produção de santos, carrancas, esculturas e utensílios (colheres e conchas de pau, gamelas, portas e janelas, cachimbos, cabides e bancos), com ela também se fabricam cochos, colmeias para a apicultura, cangas ou cambão para os animais puxarem carroças (origem do seu nome). O artesão Beto Santeiro considera a imburana “o pão de cada dia para os artesãos. Se acaba a imburana, acaba com tudo, acaba com a cultura”.

 

A imburaninha é planta querida no seu canto. Deixemos-a là, então, no seu canto. Para isso, me engagei na aquisição/fundação de um terreno-reserva de preservação, dela e de seu entorno. as desordens planetárias interferem na nossa cultura visual. Um gesto de artista que se une a luta ecologica e propõe uma arte atenta à destruição do ambiente. Inscreve-se na problematica. a arte lida com a emergência ecologica, e nos alerta, enquanto vetor de visibilidade, para a aquecimento global. o aquecimento é lento e quase imperceptivel, é função dos artistas chamar a tenção, dar visibilidades para essa questão.

 

Recife > Gravatá >Vitoria > Caruaru > Belo Jardim >Arcoverde ⋀ Vale do Catimbau > Custodia ⋀ Ibimirim⋁ Sertânia >Serra Talhada > Bom Nome > Mirandiba > Carnaubeira da Penha > Adeia Logrador

 

 A viagem é um componente formal do projeto. Ir para Canaubeira faz parte do cuidado que é salvaguardar a imburana. São nessas viagens (http://projetoimburana.tk/index.php/pt/noticias/expedicao-2806-03072017) que atravessamos Pernambuco, do litoral ao sertão, sentindo a mudança da natura/cultura. É quando entramos em contato com as comidas e os sotaques e cheiros. Caminhar, olhar e registrar, anotar, rabiscar, fotografar, filmar.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Lá, no Logrador, coletamos informações sobre o terreno, cuidamos da cerca, verificamos os pés de imburana, se alguma árvore foi agredida, se o terreno foi ou não invadido, o re-surgimento de espécies animais e vegetais e também observamos as transformações da mata mesma depois de preservada. Fazemos também a manutenção das estacas do Renque. É um momento-tempo que nos põe em contato com os primos, e com historias e estorias ancestrais. E nos devolve o sentimento de pertencimento a terra. Nessas viagens, também passeamos pelos « lugares do lugar » : Brejo do Gama ; Serra da Cacaria, Serra Umã e Serra do Jacaré e a Pedra do Gentio, local sagrado, onde os Atikuns « resolvem seus problemas ».

 

A intenção é, em breve, ativar o trajeto Recife > Carnaubeira da Penha < Recife. Devido a pandemia do covid-19, os deslocamentos funcionam como vetores de transmissão do coronavirus e o cuidado deve ser redobrado. Reduzimos as viagens estão para evitar entrar na área indígena. Temos que proteger a imburana, a caatinga e o povo. Desistimos de ir, por causa desse recrudescimento da pandemia. Foi adiada a ativação do projeto.

 

Foi adiada, também, a entrega do livro ja embalado e estava levando para Beto, o líder da Aldeia Logrador. O livro impresso sobre a genealogia de nossa família, desde nossos tataravós indígenas Ignacio Bezerra e Clara Nunes até a geração de nossos sobrinhos. Era uma historia que estava em risco de se perder, então colaborei para dar permanência a essa historia que agora existe e pode ser acessada e discutida.

 

Pau de Abelhas, A imburana de cambão é a especie mais procurada por abelhas nativas e africanizadas para nidificação - seguida do imbuzeiro e da catingueira. Elas utilizam a resina de imburana, misturada com cera para a vedação e organização interna da colônia. No travelling Derrubada Não! yann beauvais faz uma passagem/passeio nessa relação abelha/imburana, com fragamentos de conversas com primos, que citando de seus nomes evidencia a quantidade de abelhas nativas que são afetadas de imediato, ao se derrubar uma imburana. Como é a espécie mais procurada pelas as abelhas para fazer seus ninhos, os meleiros derrubam um pé de imburana centenaria, apenas para ter ecesso ao mel. Este gesto tem diminuido drasticamente o numero de árvores velhas, que são as que tem ôcos e servem para as abelhas nidificarem.

É imperativo afirmar, nos debates do aquecimento global que agitam a sociedade hoje, o valor da arvore em pé, da floresta em pé.

 

Os grandes produtores desmatam a caatinga, o Projeto Imburana, é o tipo de iniciativas artísticas autônomas que podem ser importantes em políticas de preservação ambiental e memória cultural, iniciativa que em si questiona o avanço do desmatamento em terras indígenas pelo agronegócio e a consequente salvaguarda do clima. Dar visibilidade à preservação de uma árvore ameaçada de extinção, enquanto gesto artístico, reflete sobre os rumos de uma causa prioritária que afeta todo o mundo, inscrevendo-se na luta ecológica e propondo uma arte atenta à destruição do ambiente. Severino, lider da Aldeia Cachoeira 1, nos diz «Tem uma arvore dessa aqui, chega e derruba, o que fez ? Não fez nada na vida. ». De 45 visualizações, somente 3 pessoas curtiram essa fala de Severino no Facebook. Isso nos estimula na tarefa de visibilizar a importância da mata em pé, estimula-nos a continuar : « ela em pé servirà pros meus netos, meus bisnetos. », diz Severino. Então, o terreno da imburana preservado no Logrador servirà para os hexanetos, hepatanetos e todos os futuros-netos de Inácio Bezerra e Clara Nunes.   

 

Edson Barrus

Recife, de março de 2021

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